"Queridos filhos! Também hoje o Altíssimo me concede a graça de estar com vocês e de conduzi-los para a conversão. Todos os dias eu semeio e os convido à conversão, para que sejam oração, paz, amor e grão de trigo, que mesmo morrendo, produz cem vezes mais. Não desejo que vocês, queridos filhos, arrependam-se de tudo aquilo que poderiam ter feito e não fizeram. Por isso, filhinhos, novamente com entusiasmo digam: “Desejo ser um sinal para os outros”. Obrigada por terem atendido ao meu chamado."
Comentário da Mensagem
Meditação da mensagem do dia 25 de agosto de 2013
Disse-lhe Gabriel: ”Salve, ó cheia de graça; o Senhor é contigo” (Lc 1, 28). “Cheia de graça” - por isso, n’Ela, os pastorzinhos de Fátima, na descrição de Lúcia, se viam «como que submergidos em Deus» . Diz-se agraciada por estar conosco: “...também hoje o Altíssimo Me concede a graça de estar convosco”. Acrescenta, logo a seguir, que a graça lhe é concedida para realizar uma missão: “conduzir-nos à conversão”.
O Beato João Newman, beatificado em Birmingham pelo Papa Bento XVI, durante a sua memorável visita ao Reino Unido, observa, num dos seus famosos sermões: “Triste espetáculo: o povo de Cristo errando pelas colinas como ovelhas sem pastor. Em vez de procurarem nos lugares que Ele sempre frequentou e na morada que Ele estabeleceu, avêm-se com projetos humanos, seguem guias estranhos e deixam-se cativar por opiniões novas, tornando-se joguetes do acaso e do humor do momento, e vítimas da sua própria vontade”.
Porque a verificação de Newman se mantém dramaticamente atual, Nossa Senhora vem para nos pastorear… Para nos conduzir à água viva que pode saciar a nossa sede, Jesus Cristo. Fora d’Ele não há conversão, como repetidas vezes tem lembrado o Papa Francisco: “O Senhor nos dê a todos a Sua graça, a Sua força, a fim de que possamos ser profundamente unidos a Cristo, que é a pedra angular, a pilastra, a pedra de sustentação da nossa vida e de toda a vida da Igreja”.
E já que citamos esta passagem da pequena homilia que o Santo Padre faz sempre antes da recitação do Angelus – neste caso, no domingo dia 6 de Junho – recordemos algumas passagens da vibrante homilia que, no dia seguinte, fez na missa celebrada na Igreja da Casa de Santa Marta: “Não há somente um tipo de cristão, mas cristãos com várias caras… Há os cristãos de “fachada”; há aqueles muito "tradicionalistas" e, portanto, muito "tristes"; há os "alegres", mas sem a verdadeira alegria de Cristo; e, pior ainda, há os que "se mascaram de cristãos". O denominador comum entre todos eles é o fato de não estarem alicerçados na "rocha" da Palavra de Cristo”.
Maria é a serva da Palavra. Ela é a Mãe que nos ajuda a tomar as decisões definitivas com liberdade, sem medo. Se nos deixarmos conduzir pela Santíssima Virgem, Ela nos ensinará a testemunhar a alegria da consolação de Deus, a conformarmo-nos com a lógica de amor da Cruz e a crescer numa união cada vez mais intensa com o Senhor, na oração. Convertidos a Cristo, a nossa vida será rica e fecunda! Ou, como diz a Mãe de uma forma tão bela: “Para que sejais oração, paz, amor e grão de trigo, que morrendo, produz cem vezes mais”.
Mas tudo isto com imensa doçura… “Eu semeio”, diz Nossa Senhora, apelando para a confiança e a paciência do agricultor que lança abundante e paulatinamente a semente, fiado nos frutos que há de recolher a seu tempo.
Maria é este instrumento precioso de Deus para a nossa conversão. Por Ela, derrama-se sobre nós todas as graças! A Senhora de todas as graças apresenta-se a si própria como aquela que, ao mesmo tempo, semeia e acompanha, à maneira de Jesus, o Bom Pastor das ovelhas, o desabrochar e o desenvolvimento da semente no coração de cada um dos seus queridos filhos. Graças à misericórdia de Deus e a esta presença amorosa e paciente da Mãe, Cristo, mais cedo ou mais tarde, atrai-nos para Ele. Ou seja, a conversão acontece! Não sem dor, já se vê… Exige, da nossa parte, a renúncia de todos os bens, exteriores e interiores, que constituíam a nossa segurança e nos davam satisfação. Dizia João Tauler, um dominicano alemão do século XIV: “Este desprendimento é uma cruz penosa, e tanto mais penosa quanto mais forte e firmemente estiveres agarrado aos bens que possuis”.
Recusar esta cruz penosa é resistir a Deus e, na prática, dar por perdidos todos os bens que Ele tem para nos dar, incluindo o sumo bem: a vida eterna. “Não desejo, queridos filhos, que vos arrependais de tudo aquilo que podíeis ter feito e não fizestes”, diz Nossa Senhora. Como que a dizer-te a ti e a mim: “Tem juízo, filho querido, não resistas a Deus! As coisas mesmo boas e definitivas, tudo aquilo por que verdadeiramente anseias, só as possuirás se te deixares atrair por Ele”.
Deixarmo-nos levar por Deus com confiança e com alegria. Volto muitas vezes àquele comentário de São João Crisóstomo sobre as parábolas do tesouro escondido e da pérola (Mt 13, 44-46): “As duas parábolas do tesouro e da pérola ensinam a mesma coisa: que temos de preferir o Evangelho a todos os tesouros do mundo. […] Mas há uma situação ainda mais meritória: preferi-lo com gosto, com alegria e sem hesitação. Jamais nos devemos esquecer de que ganhamos mais do que perdemos, ao renunciar a tudo para seguir a Deus. O anúncio do Evangelho está oculto neste mundo como um tesouro escondido, um tesouro inestimável”.
Desta vez, Maria, excelente pedagoga, pede-nos um gesto concreto: “Dizei novamente com entusiasmo: Desejo ser um sinal para os outros”. Quando foi dada esta mensagem de Nossa Senhora no mês de Agosto passado, eu estava em Fátima, iniciando o Retiro Anual com outros sacerdotes. Por isso, só oito dias depois, eu a li e a rezei. “Que sinal?”, perguntava-me. Eis que a resposta veio através do firme e comovente apelo à paz feito pelo Papa Francisco, antes da oração do Angelus de Domingo, dia 1 de Setembro. “Decidi convocar para toda a Igreja, no próximo dia 7 de Setembro, véspera da Natividade de Maria, Rainha da Paz, um dia de jejum e de oração pela paz na Síria, no Oriente Médio e no mundo inteiro, e convido também a unir-se a esta iniciativa, no modo que considerem mais oportuno, os irmãos cristãos não católicos, aqueles que pertencem a outras religiões e os homens de boa vontade”. E concretizou: “No dia 7 de Setembro, na Praça de São Pedro, aqui, das 19h até às 24h, reunir-nos-emos em oração e em espírito de penitência para invocar de Deus este grande dom para a amada nação síria e para todas as situações de conflito e de violência no mundo. A humanidade precisa de ver gestos de paz e de escutar palavras de esperança e de paz! Peço a todas as Igrejas particulares que, além de viver este dia de jejum, organizem algum ato litúrgico por esta intenção. Peçamos a Maria que nos ajude a responder à violência, ao conflito e à guerra com a força do diálogo, da reconciliação e do amor. Ela é mãe: que Ela nos ajude a encontrar a paz; todos nós somos seus filhos! Ajudai-nos, Maria, a superar este momento difícil e a comprometer-nos a construir todos os dias e em todo o lugar, uma autêntica cultura do encontro e da paz. Maria, Rainha da paz, rogai por nós!»
O Santo Padre, como Nossa Senhora, pede-nos um gesto. Ou, quem sabe, o Papa Francisco tenha querido corresponder ao apelo de Maria… Respondamos nós também: a Nossa Senhora e ao Papa!
Cónego Armando Duarte
Lisboa, 1 de Setembro de 2013
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