Cardeal Christoph Schönborn foi entrevistado pelo jornal croata “Vecernji list” (Zagreb) em Medjugorje – tradução de Dr. Christian Stelzer
Pergunta: Durante a missa da meia-noite, Vossa Eminência disse ter vindo a Medjugorje para estar perto da Mãe do Senhor. Essas palavras desencadearam um eco muito grande. O que o sr. quis dizer com isso?
Schönborn: Eu não posso deixar de ver que as muitas pessoas que vêm a Medjugorje, já há 28 anos, experimentam aqui de maneira especial a presença da Mãe de Deus. Eu mesmo nunca tinha estado antes em Medjugorje, porém, durante muitos anos, principalmente desde que fui nomeado bispo, em 1991, na Áustria, e especialmente na nossa diocese em Viena, eu pude ver frutos bem evidentes. Vou citar alguns exemplos, que para mim são por assim dizer palpáveis.
Primeiro, as vocações sacerdotais
Uma grande parcela de nossos jovens sacerdotes chegou à vocação sacerdotal, talvez não exclusivamente, mas certamente em conexão e em grande parte através de Medjugorje.
Em segundo lugar estão as conversões
Fascina-me como isso perpassa todas as camadas sociais: de famílias da alta aristocracia, passando por industriais, até pessoas bem simples. No vôo de Zagreb a Split, o funcionário da segurança em Viena me perguntou para onde eu iria. “Vou para Split e depois seguir adiante para Medjugorje.” O rosto dele se iluminou e começou a falar sobre sua conversão em Medjugorje. Algumas semanas atrás, em uma pequena estação de trem austríaca, o Chefe da Estação me reconheceu e me contou sua história: sua esposa morreu de câncer. Ele estava desesperado. Amigos o levaram a Medjugorje e, desde então, ele descobriu uma fé muito viva e alegre.
O terceiro exemplo são as curas
Eu me recordo de um jovem gravemente dependente de drogas, que me contou que amigos quase o forçaram a acompanhá-los para Medjugorje. Quando o ônibus entrou em Medjugorje, sentiu que algo havia acontecido com ele. Foi curado, o que é incomum, quase que momentaneamente da dependência química, ainda mais sabendo como é difícil se livrar das drogas.
Um quarto elemento são os grupos de oração.
Eu conheço o Grupo de Oração pró Medjugorje de Viena desde antes de eu ser nomeado bispo. Isso deve ter sido lá por meados dos anos 80. A nós, Dominicanos, chamou atenção que essas pessoas rezam por horas a fio e a igreja está sempre cheia. A Igreja dos Dominicanos em Viena raramente está cheia. Nessas quintas à noite ela estava sempre bem cheia. E essa fidelidade das pessoas pela oração se mantém até hoje.
Assim, quando eu junto tudo isso, então eu preciso dizer: Jesus disse que uma árvore ruim não dá bons frutos. Então, quando os frutos são bons, a árvore também deve ser boa.
Pergunta: Os peregrinos aguardam um pronunciamento da Santa Sé, e o sr. mesmo disse que Medjugorje é um milagre para o senhor. Há pouco tempo o Arcebispo de Sarajevo, Cardeal Vinko Puljic, anunciou a criação de uma comissão internacional, que deverá avaliar esse fenômeno. O que o sr. sabe a respeito e como encara o desejo de reconhecimento dos acontecimentos de Medjugorje?
Schönborn: Eu não possuo conhecimentos detalhados sobre essa comissão, isso também não seria minha tarefa, mas sempre me mantive conectado à posição oficial da Conferência de Bispos da ex-Iugoslávia e da Congregação da Doutrina da Fé do Vaticano. Sempre considerei essa posição sensata, inteligente e maternal, como sendo uma atitude sábia da Igreja. Essa posição é de seu conhecimento, e gostaria de relembrar quais são as três declarações sobre Medjugorje.
A primeira refere-se aos fenômenos. Aí a posição da Conferência de Bispos Iugoslava de 1991 e da Congregação da Doutrina da Fé Romana é clara: “Non constat de supernaturalitate”. Eu mesmo sou dogmático e fui professor de Teologia Dogmática.
“Non constat de supernaturalitate” quer dizer que a Igreja ainda não pronunciou um veredito a respeito da sobrenaturalidade dos fenômenos. Ela não disse “Constat de non supernaturalitate” e nem disse “Constat de supernaturalitate”.
Isso quer dizer que a Igreja não desmentiu a sobrenaturalidade, mas ela também não a declarou existente. Significa claramente: esses fenômenos ainda não foram avaliados pela Igreja, e minha opinião pessoal é de que isso é correto assim. Por um motivo muito simples: enquanto esses fenômenos persistirem, a Igreja dificilmente dará um veredito.
No entanto, os fenômenos certamente são o ponto de partida de Medjugorje. Começou com eles, com as declarações das crianças de que elas tinham visto a Mãe de Deus e com as mensagens que as crianças tinham recebido. Mas, o que se desenvolveu a seguir é um segundo fenômeno, e com isso se ocupa a segunda declaração dos bispos iugoslavos e da Congregação de Fé. Aí está a realidade, de que desde o começo incríveis multidões de peregrinos vieram a Medjugorje; que se desenvolveu uma vida intensiva de oração, que muitos projetos sociais foram criados aqui, e que se cristalizaram formas concretas de romarias. E isso traz para a Igreja um desafio bem prático.
Por isso, os bispos da ex-Iugoslávia já disseram, em 1991, que não poderia haver romarias oficiais. Portanto, eu não posso, nem pretendo ir a Medjugorje com uma romaria da diocese, como fizemos para Roma e para a Terra Santa.
Mas, nunca foi proibido, pela Conferência de Bispos ou por Roma, que peregrinos se dirijam a Medjugorje.
E aqui estou na terceira declaração. E esta me parece ser especialmente importante para nós bispos: os peregrinos devem ser orientados e acompanhados espiritualmente. Eu vejo minha tarefa como Arcebispo de Viena exatamente neste contexto: se, na qualidade de bispo eu vejo, que da minha diocese centenas ou milhares de pessoas peregrinam para Medjugorje, que grupos de oração são criados, vocações sacerdotais aparecem, conversões acontecem, então como bispo preciso ver que os peregrinos também tenham um bom acompanhamento. Em função disso, apoiei nesses anos todos a comunidade “Oásis da Paz”, uma comunidade de oração em Viena oriunda de Medjugorje, e os trabalhos de seminaristas que escreveram sobre Medjugorje.
Penso que isso se refere a nós bispos do mundo inteiro onde haja romeiros peregrinando para Medjugorje: que eles tenham um bom acompanhamento pastoral. E com essa finalidade eu também sempre encorajei os bispos nas discussões sobre Medjugorje: Por favor, acompanhem bem os peregrinos!
Pergunta: O Sr. encontrou pessoalmente os videntes. O Sr. esteve no Morro das Aparições e no Morro da Cruz. Quais foram suas impressões?
Schönborn: Eu diria com um pouquinho de humor: a Mãe de Deus não escolheu as montanhas mais fáceis. Como eu sempre tenho voltado a afirmar, o que me fascina em Medjugorje é a coerência com outros grandes centros marianos. Eu tenho sempre falado que existe algo como uma “Gramática das Aparições Marianas”, um certo estilo, que provavelmente tem algo a ver com a própria Mãe de Deus. Cito três elementos: as Aparições Marianas dirigem-se quase sempre às crianças. Elas não são superdotadas nem especialmente devotas, mas crianças comuns. Bernadette não sabia ler nem escrever. Ela tinha 14 anos. Aqui isso é semelhante.
O segundo: Maria dá mensagens através de crianças. Para alguns bispos isso é talvez um pouco ofensivo. Por que a Mãe de Deus não vai à casa do bispo? Por que ela aparece numa montanha de pedras ou em uma gruta ao lado de um rio ou num matagal, como em Fátima? Isso não é nada prático. E ela dá mensagens através de crianças, provavelmente por crianças serem descomplicadas.
E o terceiro elemento: quando Maria aparece, ela aparentemente tem algo programado. Em Fátima, ela aparece antes da revolução russa e tem uma mensagem para a Rússia. Em Lourdes, ela aparece em um momento em que o racionalismo alcançou o pico. Em Medjugorje, ela aparece no período comunista, quando ainda não se podia pressentir que a Iugoslávia iria quebrar, num local onde católicos, ortodoxos e muçulmanos ainda viviam em conjunto. E ela se mostra a nós com o nome “Rainha da Paz”. Quase exatamente dez anos depois irrompe a primeira das quatro guerras dos Bálcãs. Sua mensagem é paz através da reconciliação e da oração. Isso certamente tem uma forte credibilidade. Nós poderíamos agora retroceder mais, até Guadalupe no México, quando começou a conquista espanhola na América. A Mãe de Deus apareceu lá para um índio, e esse homem teve que ir ao bispo e dizer a ele o que deveria fazer. A mesma coisa é observada em outros grandes centros de peregrinação mariana. As pessoas acorrem em grande número e o local vira um centro de paz e de aculturação. Eu penso que os teólogos deveriam estudar a sintaxe das aparições marianas e visualizar todo o fenômeno Medjugorje dentro desse contexto.
Pergunta: Em Medjugorje reza-se incansavelmente pela paz. Mas na Bósnia e Herzegovina, onde os croatas e católicos representam o grupo minoritário, existem muitos problemas. O que o Sr. aconselharia aos políticos e à comunidade internacional, cujo representante agora é Valentin Inzko?
Schönborn: O problema é que muitas forças se imiscuem aqui, e para um país pequeno como Bósnia e Herzegovina é muito difícil solucionar os problemas internos sem ser incomodado. Uma coisa é certa: paz constante só existe com uma organização justa. E isso é um desafio agora especialmente para a política européia. Eu falei há pouco tempo com Valentin Inzko e estou muito contente que ele tenha essa tarefa, e espero também que ele receba o apoio da União Européia.
Estou certo de que o que acontece aqui em Medjugorje contribui para a paz, até de maneira prática, porque pessoas do mundo inteiro vêm aqui ao coração da Herzegovina. Se me permitirem dizer de forma bem humorada: a Herzegovina nunca esteve tão conhecida em todo o mundo. Quem na Coréia sabia da existência da Herzegovina? Mas olhe quantos coreanos vêm a Medjugorje. Isso é uma esperança de que essas pessoas também sejam porta-vozes em seus países com relação ao desejo de paz da Bósnia e Herzegovina.
E uma segunda coisa: eu creio que, quando em um local se ora tanto pela paz, então, certamente isso é uma grande benção para o país inteiro.
Em terceiro lugar: a “Kraljica Mira”, a Rainha da Paz, é venerada aqui em todas as três religiões. Os ortodoxos têm uma longa tradição na devoção mariana. E o islamismo não conhece alguma outra personagem da tradição cristã, que seja tão venerada como Maria. E para os católicos, principalmente para a minoria croata nesse país, é um grande consolo que Maria esteja próxima a eles de maneira especial. Maria é, como nenhuma outra personalidade religiosa, promotora da união entre os povos. Eu penso que não existe ninguém comparável a Ela.
Fonte :Kath.Net – www.medjugorje.de