Mensagem de 25 de outubro de 2013



Queridos filhos. Hoje, convido-vos a abrir-vos à oração. A oração faz milagres em vós e através de vós. Por isso, filhinhos, na simplicidade do coração pedi ao Altíssimo que vos dê a força de serdes filhos de Deus e que Satanás não vos agite como o vento abana os ramos. Filhinhos, decidi-vos de novo por Deus e procurai apenas a Sua vontade - e assim, n'Ele, encontrareis a alegria e a paz. Obrigada por terdes respondido ao meu apelo.


Comentário da Mensagem

O apelo de sempre à oração. Uma oração dirigida ao Pai, com simplicidade, para que nos ajude a resistir às insídias de Satanás, a fim de podermos ser e viver como filhos de Deus e experimentarmos a alegria e a paz. Assim, com esta simplicidade – a mesma simplicidade que nos pede a Gospa – a Mãe que nos vai educando.

 

Não sei ao certo quem é o Evágrio citado pelo Catecismo da Igreja Católica (CIC), no nº 2742… Há mais do que um, da mesma época, o século IV. Mas é muito prática e cheia de sabedoria a sua observação: «Não nos foi prescrito que trabalhemos, vigiemos e jejuemos constantemente, enquanto, para nós, é lei rezar sem cessar». São Paulo, por fidelidade a Cristo, não tem dúvidas: «Orai sem cessar» (1 Ts 5,17), «sempre e por tudo dando graças a Deus Pai, em nome de nosso Senhor, Jesus Cristo» (Ef 5,20), «com orações e súplicas, orai em todo tempo, no Espírito e, para isso, vigiai com toda a perseverança e súplica por todos os santos» (Ef 6,18).

 

Não admira, pois, a insistência de Nossa Senhora: «filhinhos,convido-vos a abrir-vos à oração […] na simplicidade do coração pedi ao Altíssimo»…

 

Como vencer a lentidão e a preguiça para orar todo o tempo? «Com um amor humilde, confiante e perseverante. A humildade é o fundamento da oração. “Nem sabemos o que seja conveniente pedir" (Rm 8,26). A humildade é a disposição para receber gratuitamente o dom da oração; o homem é um mendigo de Deus». (CIC, 2559).

 

Neste Ano Litúrgico, que a passos largos caminha para o seu termo – e com ele o Ano da Fé, já no próximo dia 24 de novembro – São Lucas, o evangelista da misericórdia, mas também da exigência no discipulado, tem-nos falado, sobretudo nos Domingos do “Tempo Comum”. Meditámos as três parábolas sobre a oração: há já algum tempo, ainda em julho, a «parábola do amigo importuno» (Lc 11, 5-11), convite a uma oração persistente; mas já neste mês, no Domingo passado e neste, escutámos as outras duas parábolas, a da «viúva importuna» (Lc 18, 1-8), que focaliza algumas qualidades da oração, como a constância, a paciência e a fé; e a do «fariseu e o publicano» (Lc 9,1-14), que se refere à humildade do coração bem patente na oração do publicano que a Igreja constantemente faz sua: «Meu Deus, tem piedade de mim, pecador».

 

Belo exemplo desta simplicidade de coração a que nos exorta Nossa Senhora, é Santa Teresa do Menino Jesus, a quem o Papa Francisco está tão ligado. Celebrámos a sua memória no primeiro dia de Outubro, e o Santo Padre, na meditação matutina desse dia, apontou a força e a actualidade da figura de Santa Teresinha: «A Igreja sábia canonizou esta santa — humilde, pequena, confiante em Deus, mansa — […] porque a força do Evangelho está na humildade. Humildade de criança que se deixa guiar pelo amor e pela ternura do Pai».

 

Ensina Santo Agostinho: «Todos os que recusam o orgulho são pobres perante Deus e sabemos que Ele inclina o seu ouvido para os pobres e para os indigentes; para os que reconhecem que a sua esperança não pode assentar no ouro, nem no dinheiro, nem nesses bens que se possuem em abundância, mas temporariamente. […] Quando alguém despreza em si mesmo tudo aquilo que o orgulho inflama, é um pobre de Deus. Deus inclina para ele o seu ouvido, porque conhece os sofrimentos do seu coração […]. Aprendei pois a ser pobres e indigentes, tendo ou não algum bem neste mundo. Pode encontrar-se um mendigo orgulhoso e um rico trespassado do sentimento da sua própria miséria. “Deus resiste aos orgulhosos”, quer se cubram de seda ou de farrapos; “e concede a sua graça aos humildes” (Tg 4,6; Pr 3,34), possuam ou não bens deste mundo».

 

«Pedi ao Altíssimo que vos dê força de serdes filhos de Deus, e que Satanás não vos agite como o vento abana os ramos», recomenda Maria, nossa Mãe.

 

Nesta meditação da mensagem da Gospa, permiti que prossiga, seguindo de perto, o Catecismo da Igreja Católica. Estamos a terminar o Ano da Fé que, através da Carta Apostólica Porta Fidei, o Papa Bento XVI proclamou para assinalar os cinquenta anos do Concílio Vaticano II e os vinte da publicação do Catecismo da Igreja Católica, um dos frutos mais saborosos do Concílio. Continuemos, pois, a saboreá-lo… Diz assim o nº 2741: «Jesus também reza por nós, em nosso lugar e em nosso favor. Todos os nossos pedidos foram, uma vez por todas, reunidos no seu clamor sobre a Cruz e ouvidos pelo Pai na sua Ressurreição; e é por isso que  Ele não cessa de interceder por nós junto do Pai. Se a nossa oração está, de modo iniludível, unida à de Jesus, na confiança e na audácia filial, obteremos tudo o que pedimos em Seu nome; bem mais do que pequenos favores, receberemos o próprio Espírito Santo, que possui todos os dons».

 

Na força do Espírito, fazemos a experiência da filiação divina, nada esperando senão de Deus… «procurai apenas a Sua vontade e n'Ele, encontrareis a alegria e a paz», garante-nos Aquela que de forma única o experimentou.

 

«Não há nada que valha como a oração; ela torna possível o impossível, fácil o difícil. É impossível que caia em pecado o homem que reza», diz São João Crisóstomo. Na verdade, a oração atrai a graça de Deus que nos permite vencer o pecado e, nessa medida, traz à tona, na vida de cada um, a alegria e a paz.

 

Mas atenção, o demónio, não dorme, nem desiste. «Os grandes orantes da Antiga Aliança antes de Cristo, como também a Mãe de Deus e os santos com Ele, nos ensinam: a oração é um combate. Contra quem? Contra nós mesmos e contra os embustes do Tentador, que tudo faz para desviar o homem da oração, da união com o seu Deus» (CIC, nº 2725). Já no nº 409, o Catecismo ensina, citando a Constituição Conciliar “Gaudiem et Spes”: Trata-se de uma luta árdua «contra o poder das trevas que perpassa a história universal da humanidade. Tendo começado nas origens, vai durar até ao último dia, segundo as palavras do Senhor. Empenhado nesta batalha, o homem deve lutar sempre para aderir ao bem; não consegue alcançar a unidade interior senão com grandes esforços e o auxílio da graça de Deus».

 

O Papa Francisco, na meditação do Evangelho da Missa do dia 11 de outubro (cf. Lc 11, 5-13), dizia: «Eis os critérios para enfrentar os desafios da presença do diabo no mundo: a certeza de que Jesus luta contra o diabo e a vigilância. É preciso ter presente que o demónio é astuto: nunca é expulso para sempre, e só o será no último dia, pois quando o espírito impuro sai do homem, vagueia por lugares desertos à procura de alívio e, dado que não o encontra, diz: “voltarei à casa, de onde saí”. Quando volta, encontra-a limpa e adornada; vai então e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele, entram e estabelecem-se ali. E a última condição desse homem vem a ser pior do que a primeira».

 

Eis por que motivo é preciso vigiar. «A sua estratégia – avisou o Papa – é esta: tornaste-te cristão, vai em frente na tua fé e eu deixo-te tranquilo. Mas depois, quando te habituas e já não vigias, sentindo-te seguro, eu volto. O Evangelho de hoje começa com o demónio expulso e termina com o diabo que volta. São Pedro dizia: ”é como um leão feroz que dá voltas ao nosso redor”. E isto não é mentira, «é a Palavra do Senhor».

 

«A oração faz milagres em vós e através de vós», diz Nossa Senhora.

 

Quantos milagres não acontecem pela força da oração que fazemos uns pelos outros! Agora, em novembro, na piedade popular o «Mês das Almas», quando voltarmos à mensagem da Mãe, não nos esqueçamos de rezar pelas almas do Purgatório, que esperam ansiosamente o «milagre» da passagem dali para o Céu. «Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o corpo místico de Cristo, a Igreja terrestre, desde os tempos primevos do cristianismo, venerou com grande piedade a memória dos defuntos; e ‘já que é um pensamento santo e salutar rezar pelos defuntos para que sejam livres dos seus pecados’ (2 Mc 12,46), por eles ofereceu também sufrágios" LG 50). A nossa oração por eles pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua intercessão por nós» (CIC, nº 958).

 

«Obrigada por terdes respondido ao meu apelo».

 

Mãe Santíssima, não nos agradeças… Que o Altíssimo  nos ajude a pôr em prática o teu apelo. É, em cada mês, conforto espiritual, e impulso para a nossa missão no meio do mundo.

 

Cónego Armando Duarte, Lisboa, 27 de Outubro de 2013


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