Queridos Filhos! Hoje convido todos à oração. Abri a porta do vosso coração, profundamente à oração, filhinhos, à oração do coração, e assim o Altíssimo poderá actuar na vossa liberdade e a conversão começará. A vossa fé chegará a ser tão forte, que poderão dizer de todo o vosso coração: “meu Deus, meu tudo”. Compreenderão, meus filhos, que aqui na Terra tudo é passageiro. Obrigada por terdes acolhido o meu apelo.
Comentário da Mensagem
«Convido todos à oração… Abri a porta do vosso coração à oração… à oração do coração…»
Que insistência, Mãe Santíssima! Com toda a razão… bem sabeis, Mãe nossa, como a mentalidade deste mundo, a “catequese” do mundo, torna difícil em nossas vidas o “combate da oração”… E conheceis também as dificuldades que advêm da nossa auto-suficiência e do nosso orgulho. Queremos que a oração dependa de nós, do nosso esforço de concentração, dos ritos que fazemos e das palavras que dizemos. Desanimados com o fracasso do nosso esforço, com a aridez que sentimos, com a desatenção de Deus aos nossos pedidos, começamos a pensar de forma mundana: o que conta é o que a razão demonstra e a ciência comprova, por isso é perder tempo persistir na oração que ultrapassa a nossa consciência e o nosso inconsciente; é necessário aumentar os níveis da produção - ora, sendo a oração improdutiva, é inútil; o verdadeiro, o bom e o belo dão prazer e conforto ao homem - pelo contrário, procurar o encanto e a glória de Deus, aliena; há tanto que fazer, um mundo a construir, tantos irmãos que precisam da nossa ajuda… para quê a “fuga” da oração, uma espécie de divórcio da vida? Para levar de vencida o “combate da oração” são necessárias as armas da humildade, confiança e perseverança, certos de que a oração, exigindo o nosso esforço e disciplina, vem do Espírito Santo (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 2726 a 2728).
O mundo consegue enganar-nos, mas está enganado. O mundo está enganado! Nos últimos dias do Ano Litúrgico que passou, ouvimos Daniel descrever aquela visão: viu sair do mar quatro animais: um que parecia um leão com asas de águia; outro era como um urso que triturava carne, muita carne, sem se saciar; o terceiro a sair do mar era como um leopardo com quatro asas e quatro cabeças; o último era o mais aterrador, com dentes de ferro e dez chifres, no meio dos quais nasceu um chifre mais pequeno, com olhos e fala, que devorou parte dos outros (cf. Dn 7, 2-14). Eis o poder mundano, tenebroso, arrogante, avassalador… Mas passageiro!
«Compreenderão, meus filhos, que aqui na Terra tudo é passageiro».
Na visão de Daniel, o mais terrível dos animais foi morto, mas aos outros foi dado um tempo limitado de vida. Mas morrerão também. O Vivo, o vencedor é Jesus, a quem o Pai entregou a soberania eterna sobre todos os povos e nações.
Claro, aqueles animais saídos do mar a quem foi dado mais algum tempo de vida, continuam fazendo estragos. Estragos irreversíveis naqueles que resistem á Palavra e não abrem o seu coração ao amor e ao perdão de Deus. Neste tempo intermédio – entre a encarnação do Filho de Deus e a Sua vinda gloriosa, no final dos tempos – o nosso coração deve abrir-se à Palavra de Deus que se fez carne na Pessoa do Filho, para que se torne vida em nós. É o Vencedor quem diz: «Não passará esta geração sem que tudo se cumpra. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar» (Lc 21, 32-33). «O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído» (Dn 7,24).
Sabemos aquilo que passa e o que não passa, o que é provisório e o que é definitivo, o efémero, o transitório, o passageiro, e aquilo que permanece para sempre. Porque nos deixamos então enganar? «Como aconteceu nos dias de Noé, assim sucederá na vinda do Filho do homem. Nos dias que precederam o dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca; e não deram por nada, até que veio o dilúvio, que a todos levou» (Mt 24,37-39). Eis o quadro da humanidade na época de Noé: os homens viviam, então, numa alegre inconsciência, preocupados apenas em gozar a sua “vidinha” descomprometida; quando o dilúvio chegou, apanhou-os de surpresa e impreparados… Ao contrário deles, o discípulo é aquele que está sempre vigilante, atento, preparado, para acolher o Senhor que vem. Não perde oportunidades, porque não se deixa distrair com os bens deste mundo, não vive obcecado com eles e não faz deles a sua prioridade fundamental… Mas, dia a dia, cumpre o papel que Deus lhe confiou, com empenho e com sentido de responsabilidade.
Como podemos nós resistir aos três animais saídos do mar e que ainda por aí andam? Mais que resistir… Como conseguiremos vencê-los e sermos discípulos?
«Convido todos à oração… Abri a porta do vosso coração, à oração, à oração do coração…», diz-nos a Mãe que é também a discípula ideal de Seu Filho! No Angelus do primeiro Domingo do Advento, dizia o Papa Francisco: «O modelo desta atitude espiritual, deste modo de ser e de caminhar na vida é a Virgem Maria. Uma simples moça do campo, que leva no coração toda a esperança de Deus! Em seu ventre, a esperança de Deus se tornou carne, fez-se homem, fez-se história: Jesus Cristo. O seu Magnificaté o cântico (…) de todos os homens e mulheres que esperam em Deus, no poder da sua misericórdia. Deixemo-nos guiar por Ela, que é Mãe, é Mãe e sabe como guiar-nos. Deixemo-nos guiar por Ela neste tempo de espera e de vigilância ativa». Se for Ela a guiar-nos…
«A vossa Fé chegará a ser tão forte, que poderão dizer de todo o vosso coração: "Meu Deus, meu tudo"».
Santa Teresinha do Menino Jesus, no “Manuscrito Autobiográfico”, dá este testemunho fantástico: «Como é grande o poder da oração! Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado para o Céu, é um grito de gratidão e de amor, tanto no meio da tribulação como no meio da alegria; enfim, é algo de grande, de sobrenatural, que me dilata a alma e me une a Jesus».
"Meu Deus, meu tudo", é o grito de alma de São Francisco logo após a sua conversão. Tinha-se encontrado com a vontade de Deus. Os passos já dados, os caminhos imprevisíveis por onde o Senhor o conduzira, todos os obstáculos que se foram esboroando, a gratuidade com que tudo aquilo acontecera, deixavam no jovem convertido esta certeza: Há um Deus! E esse Deus é o meu Deus!Esta oração, longe de exprimir uma atitude egoísta perante Deus, manifesta o deslumbramento de quem se sente desmerecer as maravilhas que Deus nele estava operando. São João da Cruz ajuda-nos a perceber este deslumbramento: «Tal é a alma que está enamorada de Deus. Não pretende vantagem ou prémio algum a não ser perder tudo e perder-se a si mesma, voluntariamente, por Deus, e nisto encontra todo o seu lucro».
A oração do coração conduz-nos à profunda consciência de que o sentido da nossa vida está naquele “Tudo”. Nele se experimenta alegria quando fazemos aquilo que temos para fazer; neste “tudo” repousa, pela noite, o coração, depois de se ter gasto o dia todo no serviço gratuito dos irmãos.
Já que Nossa Senhora nos desafia com o exemplo de São Francisco, saudemo-l'A junto ao Presépio como Francisco A saudava, com filial devoção por ser a «Virgem Senhora Pobrezinha», Mãe do seu Irmão Jesus:
Salve, Senhora santa Rainha, santa Mãe de Deus,
Maria, virgem convertida em templo,
e eleita pelo Santíssimo Pai do céu,
consagrada por Ele com o seu santíssimo amado Filho
e o Espírito Santo Paráclito;
que teve e tem toda a plenitude da graça e todo o bem!
Salve, palácio de Deus!
Salve, tabernáculo de Deus!
Salve, casa de Deus!
Salve, vestidura de Deus!
Salve, Mãe de Deus!
Cónego Armando Duarte
Lisboa, 2 de Dezembro de 2013
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