“Queridos filhos. O Altíssimo concede-me a graça de ainda poder estar convosco e de os conduzir na oração em direção ao caminho da paz. O vosso coração e a vossa alma têm sede de paz e de amor, de Deus e da Sua alegria. Por isso, queridos filhos, rezem, rezem, rezem e na oração descobrirão a sabedoria de viver. Eu abençoo-os e intercedo por cada um de vós diante de meu Filho Jesus. Obrigada por terem respondido ao meu chamamento.”
Comentário da Mensagem
O Altíssimo concede-me a graça de ainda poder estar convosco…
Celebrámos, neste dia 25 de Junho, o 33º aniversário da presença quotidiana de Nossa Senhora em Medugorje, por feliz coincidência na mesma semana da solenidade do Sagrado Coração de Jesus e da Memória do Imaculado Coração da Virgem Santa Maria.
Esta história linda, expressão do Amor dos Corações de Jesus e de Maria, começou no crepúsculo do dia 24 de Junho de 1981. Mas no dia seguinte, no dia 25, no sopé do Podbrdo, estaria formado o grupo dos 6 jovens videntes com idades entre os 10 e os 17 anos - Ivan, Ivanka, Jakov, Marija, Mirjana e Vicka. Viram, no alto da colina, dentro de uma nuvem de luz, a Santíssima Virgem Maria, com o Menino nos braços. Não, não foi uma alucinação… Nossa Senhora convidou-os a aparecer nos dias seguintes, naquele mesmo lugar «porque tenho ainda muitas coisas para vos revelar».
Desde então até hoje, embora a modalidade da comunicação tenha vindo a modificar-se, até pelas circunstâncias de vida dos videntes, hoje todos casados e, alguns deles, vivendo grande parte do ano fora da Bósnia. Os “recados”, que começaram por ser para a Paróquia e são hoje para o mundo inteiro, são transmitidos, desde há anos, na Mensagem do dia 25 de cada mês. O seu conteúdo é sempre muito semelhante: rezem, façam penitência e jejuem, tenham a Bíblia em vossas casas e leiam a Escritura, frequentem os Sacramentos. Ainda há dias um amigo meu, peregrino de Medjugorje, me perguntava: «o padre sabe porque Nossa Senhora está sempre a recomendar a mesma coisa?» ... e avançou logo a resposta: «Porque nós somos burros e distraídos». Está bem, é verdade. Mas ainda que assim não fosse, há uma outra razão: Nossa Senhora é Mãe, e nós sabemos como elas são… Quando tenho a alegria de almoçar ou jantar com a minha mãe ela sempre pergunta: «Já lavaste as mãos?»… São todas a mesma coisa!
Passados 33 anos, Maria Santíssima considera uma graça do Altíssimo poder estar connosco. Di-lo na Mensagem:
O Altíssimo concede-me a graça de ainda poder estar convosco e de os conduzir na oração em direção ao caminho da paz.
Claro, a graça é sobretudo nossa. Uma graça necessária, ou um mimo escusado? Na verdade Nosso Senhor previu tudo em ordem à nossa felicidade e salvação eterna, Nós temos tudo! Na Solenidade do Pentecoste recordei uma passagem de um Sermão do Beato John Henry Newman, sobre a presença de Cristo na Igreja: «Cristo está verdadeiramente connosco agora, de muitas maneiras. Ele próprio o disse: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28,20) […]. Poderíamos ser levados a dar esta explicação: «Cristo voltou, mas em espírito; foi o seu espírito que veio em seu lugar, e quando se diz que Cristo está connosco, tal significa apenas que o seu Espírito está connosco.» Naturalmente, ninguém pode negar […] que o Espírito Santo veio; mas porque veio Ele? Para suprir a ausência de Cristo, ou para cumprir a sua presença? Seguramente que para O tornar presente. O Espírito Santo digna-Se pois vir até nós para que, com a sua vinda, Cristo possa vir até nós, não material ou visivelmente, mas entrando em nós. […] Como diz o próprio Jesus: «O mundo já não Me verá; vós é que Me vereis» (Jo 14,19)». Temos tudo, porém, na sua incomensurável misericórdia, o Altíssimo permite, para além desse tudo, que venha ter connosco a Mãe do Céu para nos ensinar a forma como o Espírito Santo pode entrar em nós. Não é bom? Não se trata de uma enorme graça que já os discípulos experimentaram no Cenáculo quando esperavam em oração com a Mãe o cumprimento da promessa?
São João Paulo II, naEncíclica Dives in Misericordia (n.9), fala desta graça especial da presença de Maria: «Mãe do Crucificado e do Ressuscitado […], tendo experimentado a misericórdia de um modo excepcional, «merece» igualmente tal misericórdia durante toda a sua vida terrena e, de modo particular, aos pés da cruz do Filho. […] Em seguida, através da participação escondida e, ao mesmo tempo, incomparável na missão messiânica de seu Filho, foi chamada de modo especial para tornar próximo dos homens o amor que o Filho tinha vindo revelar: amor que encontra a sua mais concreta manifestação para com os que sofrem, os pobres, os que estão privados de liberdade os cegos, os oprimidos e os pecadores, conforme Cristo explicou (cf. Lc 4,18; 7,22)».
O vosso coração e a vossa alma têm sede de paz e de amor, de Deus e da Sua alegria.
Senhor Meu Deus, vejo como me é preciso ter paciência; porque esta vida é cheia de contradições…
A nossa alma tem sede de paz, mas com frequência não procuramos a paz de Deus, mas a paz do mundo para descansar, para não sofrer. Confunde-se a paz com silêncio, quietude, amor sem lágrimas… Porém a paz da minha alma é a paz daquele que nada espera de ninguém, mas tudo espera de Cristo que na Cruz me alcançou a possibilidade de, ainda neste mundo, viver unido à Sua vontade. Com a clareza dos místicos, São Rafael Arnaiz Baron previne-nos que «acompanhá-Lo na cruz custa por vezes lágrimas abundantes. Considerar que ainda temos uma vontade própria, tantas misérias, defeitos, pecados, não pode deixar de nos causar desgosto. […] Tudo é combate, dor, mas Jesus está no centro, pregado numa cruz, e encoraja a alma a prosseguir».
A presença de Maria pode ajudar-nos a discernir entre a paz que queremos e a paz que precisamos, pode animar-nos no combate e a não sucumbir na triste contemplação da busca de nós próprios.
Temos sede de alegria. A Beata Madre Teresa de Calcutá recorda que «Jesus só poderá possuir inteiramente a nossa alma se ela se abandonar a Ele com alegria. «Um santo triste é um triste santo», costumava dizer São Francisco de Sales. Santa Teresa de Ávila só se preocupava com as suas irmãs quando via que alguma delas perdia a alegria». Porém, há dias, na sua homilia matutina na igreja da Casa de Santa Marta, o Papa explicava: «nem toda a vida do cristão é uma festa. Choramos, muitas vezes choramos. Quando se está doente, quando há um problema na família com o filho, com a filha, com a mulher, com o marido; quando nos damos conta que o salário não chega até ao fim do mês ou se tem de entregar a casa ao Banco». Há ainda outra tristeza de que falou o Papa: «a tristeza de trilhar um caminho que não é bom, quando vamos a comprar a alegria do mundo, do pecado, e depois experimentamos um vazio dentro de nós, fica a tristeza". E esta é a tristeza da falsa alegria.
Temos sede de alegria, mas uma alegria que só experimentaremosno último dia, no momento da ressurreição? São Bernardo de Claraval, tranquiliza-nos: «Não desanimeis, não cedais a essas infantilidades. Enquanto aguardais, recebereis suficientes «primícias do Espírito» (2Cor 1,22) para colherdes desde já na alegria. Semeai na justiça, diz o Senhor, e colhereis a esperança da vida. Ele não vos relega para o último dia, quando tudo vos será dado realmente, e já não na esperança; está a falar do presente. Claro, a nossa felicidade será grande, a nossa alegria infinita, quando começar a verdadeira vida; mas a esperança de uma tão grande felicidade não pode existir sem que haja alegria desde já.
O Santo Papa, na homilia que vínhamos seguindo, dizia um pouco mais adiante: «Para entendermos a tristeza que se transforma em alegria, Jesus dá o exemplo da mulher nas dores do parto. É verdade que custa, mas depois, quando pega o filho ao colo, logo esquece a dor. Assim sucede connosco: o que permanece é "a alegria de Jesus, uma alegria purificada". Esta é a "alegria que permanece".
Não precisaremos nós desta presença da Senhora que vem do Céu – onde a alegria é plena - para nos acalentar a esperança naquelas muitíssimas circunstâncias em que a alegria fica como que escondida. Não precisaremos que Ela nos anime e nos repita as palavras de Jesus "Não tenhais medo!"?
O nosso coração e a nossa alma têm sede do amor de Deus. Ficamos empolgados com o testemunho de Santa Teresa do Menino Jesus: «Para Vos amar como Vós me amais, preciso de me servir do vosso próprio amor; só então encontro repouso. Ó meu Jesus, é talvez uma ilusão, mas parece-me que não podeis cumular nenhuma alma com mais amor do que cumulastes a minha. É por isso que ouso pedir-Vos que ameis aqueles que me destes como me amastes a mim. Um dia, no céu, se descobrir que os amais mais do que a mim, alegrar-me-ei com isso, reconhecendo desde já que essas almas merecem o vosso amor muito mais do que a minha. Mas cá na terra, não posso conceber maior imensidade de amor do que a que Vos dignastes prodigar-me gratuitamente, sem nenhum mérito da minha parte».
Contudo, quantas vezes não amamos. A nossa ânsia, a sede, o desejo, fica como que bloqueado, não consegue libertar-se, não consegue elevar-se, não consegue ir nem para a direita nem para a esquerda… O que é deplorável, diz São Vicente de Paulo, «é que as coisas que nos mantêm nessa servidão normalmente são completamente indignas de nós… Um nada, uma imaginação, uma palavra mais seca que nos dirigiram, a ausência de um acolhimento simpático, uma recusazinha, o simples pensamento de que não somos tidos em grande conta: tudo isso nos fere e nos indispõe ao ponto de não conseguirmos recuperar! O amor-próprio amarra-nos a essas feridas imaginárias; não conseguimos sair daí, ficamos presos interiormente. E porquê? Porque estamos cativos desta paixão».
Será então desnecessária a presença de Maria? Com paciência, conhecendo-nos como nos conhece, faz-nos perceber onde está encalhado o nosso coração. E, com jeitinho, o liberta. Depois mostra-nos o Seu coração livre e luminoso. E faz-nos desejar um coração assim!
Que graça é para nós a permissão que o Altíssimo Lhe dá de vir do Céu para junto dos filhos peregrinos neste vale de lágrimas, elevados pelos desejos que Deus põe no seu coração, mas, ao mesmo tempo, carregando tantas limitações. Que maravilha têm sido estes 33 anos em que Maria nos tem conduzido na oração em direção ao caminho da paz.
Eu abençoo-os e intercedo por cada um de vós diante do meu Filho Jesus.
No Séc. XVII, vários místicos, entre eles São João Eudes prepararama grande revelação feita por Jesus a Santa Margarida Maria sobre a devoção ao Coração divino. Impelido por um invulgar sopro da graça, explicitou a ousada devoção que une num só os sacratíssimos Corações do Redentor e de Sua Mãe: "Não sabeis que Maria nada é, nada tem e nada pode sem Jesus, por Jesus e em Jesus, e que Jesus é tudo, pode tudo e faz tudo n'Ela? Não sabeis que é Jesus quem fez o Coração de Maria tal qual ele é, e quis fazê-lo uma fonte de luz, de consolação e de toda sorte de graças para aqueles que recorrem a Ela em suas necessidades? Não sabeis que Jesus não apenas reside e assiste continuamente no Coração de Maria, mas é Ele mesmo o Coração de Maria, o Coração de seu Coração e a alma de sua alma, e que, portanto, vir ao Coração de Maria é vir a Jesus, honrar o Coração de Maria é honrar Jesus, invocar o Coração de Maria é invocar Jesus?"
Quis Jesus ter bem junto de Si um Coração segundo o Seu, isento de qualquer má inclinação,empregando inteiramente a sua capacidade natural e sobrenatural num exercício contínuo de amor a Jesus - o único objeto de todos os seus afectos.O Imaculado Coração de Maria é invocado por São João Eudes, não em si, como se tivesse movimentos próprios, mas inteiramente dissolvido no Coração Jesus, incapaz de refletir em si qualquer coisa que não seja o próprio Deus. Cultivar com filial audácia esta devoção ao Sagrado Coração de Jesus e de Maria é uma boa forma de aproveitar ao máximo esta presença de Maria, para que Ela nos guie na oração rumo à plenitude de Deus que queremos desde já saborear- tanto quanto a Sua misericórdia o permita - dessedentando-nos na água fresca do amor, da paz e da alegria.
No encerramento do mês de Maio, o Papa Francisco chegou à Gruta de Lourdes, nos jardins do Vaticano, quando decorria a tradicional Procissão de Velas. Antes de, no final, abençoar os participantes, pronunciou umas breves palavras enaltecendo a prontidão de Maria: «O Evangelho diz-nos que, depois do anúncio do Anjo, Ela foi depressa, não perdeu tempo, foi rápido para servir. Ela é a Mãe da prontidão, Nossa Senhora da prontidão. Ela se apronta depressa para vir em nossa ajuda quando Lhe rezamos, quando Lhe pedimos ajuda e protecção. Em tantos momentos da vida, nos quais precisamos da sua ajuda, da sua protecção, Maria veio logo, não se faz esperar: Ela é a Mãe da prontidão, sempre disposta para servir». Nestes 33 anos o temos experimentado em Medjugorje.
Nossa Senhora da Prontidão, rogai por nós!
Cónego Armando Duarte
Lisboa, Festa do Martírio dos Apóstolos São Pedro e São Paulo de 2014
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