Mensagem de 25 de julho de 2014



"Queridos filhos. Vocês não estão conscientes das graças que estão a viver, neste tempo em que o Altíssimo lhes dá sinais para que se abram e se convertam. Regressem a Deus e à oração, e que nos vossos corações, nas vossas famílias e nas vossas comunidades a oração comece a reinar, a fim de que o Espírito Santo os guie e os encoraje a estar, diariamente, mais abertos à vontade de Deus e ao Seu plano para cada um de vós. Eu estou convosco, e com os Santos e os Anjos intercedo por todos. Obrigada por terem respondido ao meu chamamento." 


Comentário da Mensagem

No Festival dos Jovens - o Mladifest deste ano – que teve início em 31 de Julho e até ao dia 5 de Agosto decorreu em Medjugorge, sob o slogan “Eis aí a tua Mãe”, participam mais de 10.000 jovens provenientes de 60 países. O Pároco de Medjugorje, Frei Marinko Sakota, saudou-os dizendo: «Bem vindos à Rainha da Paz, à Mãe e à sua escola, Ela vos ama e vos conduz a Seu Filho Jesus, Ela conhece o melhor caminho».

 

Na homilia da Missa celebrada logo a seguir ao acolhimento dos participantes no Mladifest, concelebrada por 335 sacerdotes e presidida pelo Provincial dos Franciscanos da Herzegovina, Frei Miljenko Steko, os jovens foram exortados a deixarem-se conduzir por Maria para as suas reais necessidades. «Ela afasta-nos do mundo virtual e assim reencontramos a paz, o amor para com Deus e o amor para com os homens». E logo a seguir pediu aos jovens que nos dias seguintes recorram ao sacramento da Reconciliação: «No sacramento da Reconciliação, reconstrói-te como aquele que se torna digno de receber a Cristo e encontrarás a paz. Podereis regressar aqui, a Medjugorje e dizer com total confiança: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra”.  Confiar na providência divina e reconhecer que Deus está sempre connosco. Ele não prometeu que não haveria sofrimentos e feridas, que não teríamos momentos difíceis na vida, mas prometeu que estaria connosco todos os dias, até ao final do mundo. Ele não falha. Deus não abandona o homem. O homem infelizmente pode abandonar a Deus e assim condenar-se, mas Deus não abandona o homem. Se Deus não renuncia ao homem e sempre oferece uma nova oportunidade de conversão, o que poderemos temer? Porquê ter medo? Que cada um de nós, no caminho da conversão, seja amparado e protegido pela Mãe, Rainha da Paz!».

 

A origem deste Festival está na Mensagem do dia 1 de Agosto de 1984: «No dia 5 de Agosto próximo, celebra-se o segundo milénio do Meu nascimento. Nesse dia, Deus permite-Me alcançar-vos graças particulares e conceder ao mundo uma especial bênção. Peço-vos que vos prepareis durante três dias dedicados exclusivamente a Mim. Nesses dias não trabalheis muito, peguem no terço e rezai e jejuai a pão e água. No decorrer de todos estes séculos, tenho-Me dedicado inteiramente a vós… Será pedir-vos muito que Me dediquem ao menos três dias?».

 

Quando recordamos esta revelação logo espreita o legalista que existe dentro de nós: «Mas a Festa da Natividade de Nossa Senhora não a celebramos no dia 8 de Setembro?». É verdade. E continuaremos a celebrá-la. Nossa Senhora não pediu que se mudasse a data.

 

Vocês não estão conscientes das graças que estão a viver, neste tempo em que o Altíssimo lhes dá sinais para que se abram e se convertam.

 

Andamos muito distraídos, é verdade!... Não saboreamos nem tiramos proveito de tantas graças que o Senhor nos concede. Quantos não se consideram com direito a elas… «Muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram» (Lc 10,24). Comenta Jean Tauler, um dominicano de Estrasburgo que viveu no século XIV: «Todas estas pessoas quiseram ver e não viram. Quiseram ver, mas apegaram-se à vontade própria [...], uma vontade que encobre os olhos da alma como uma película ou uma membrana encobre os olhos do corpo, impedindo-os de ver [...]. Quanto mais permanecerdes na vontade própria, mais privados sereis de ver com o olhar interior, uma vez que a verdadeira felicidade advém do abandono verdadeiro, que é o afastamento da vontade própria».

 

Este ambiente de dispersão que nos rodeia, descentra-nos do essencial… porque complicamos os nossos desejos; porque, devido à nossa falta de vontade, tudo o que queremos se torna difícil. Deixamo-nos levar pelo que nos apetece, pelo que é cómodo, pelo que não é necessário, e muitas vezes por desejos desordenados.

 

São Gregório de Nazianzo (330-390) foi um homem atento aos sinais pelos quais Deus nos fala… «Certa noite, andava eu a passear à beira-mar e, “soprando uma forte ventania, o lago começou a agitar-se” (Jo 6,18). As vagas elevavam-se ao longe e invadiam a praia, batendo nos rochedos… Os seixos pequenos, as algas e as conchas mais leves eram arrastados pelas águas e atirados para a praia, mas os rochedos permaneciam firmes e inabaláveis, como se tudo estivesse calmo, mesmo no meio das vagas que os assolavam. […] Retirei uma lição desse espectáculo. Esse mar não será a nossa vida e a condição humana? Também aqui se encontra muita amargura e instabilidade. E não serão como os ventos as tentações que nos assolam e todos os golpes imprevistos da vida? Entre as pessoas que são postas à prova, umas parecem-me objectos ligeiros e sem vida que se deixam levar sem oferecer a mínima resistência; não têm nenhuma firmeza em si; não têm o contrapeso duma razão sábia que lute contra os assaltos. Outras parecem-me rochedos, dignas dessa Rocha sobre a qual fomos edificados e que adoramos; formadas nos raciocínios da verdadeira sabedoria, elevam-se acima da fraqueza comum e tudo suportam com uma constância inabalável». A Mãe conhece-nos… Sabe que “água mole em pedra dura tanto dá até que fura”. Persistindo nos seus avisos o nosso coração há-de abrir-se à graça.

 

Regressem a Deus e à oração, e que nos vossos corações, nas vossas famílias e nas vossas comunidades a oração comece a reinar, a fim de que o Espírito Santo os guie e os encoraje a estar, diariamente, mais abertos à vontade de Deus e ao Seu plano para cada um de vós.

 

Bem a propósito desta exortação da Mãe do Céu, o seguinte comentário atribuído a São Macário do Egipto, um monge do século IV: «Se amassarmos farinha sem lhe misturarmos fermento, bem podemos amassá-la, sová-la e trabalhá-la, que a massa não fermentará nem servirá para comer. Mas quando lhe misturamos fermento, este faz levedar e crescer toda a massa, como na comparação que o Senhor aplicou ao Reino. […] Assim é com a carne: por muito cuidado que se tenha, se não lhe deitarmos sal para que se conserve, […] começará a cheirar mal e tornar-se-á imprópria para consumo. Imagina, pois, que toda a humanidade é massa ou carne, e pensa que a natureza divina do Espírito Santo é o sal e o fermento que vêm de outro mundo. Se o fermento celeste do Espírito e o sal bom da natureza divina não forem introduzidos na natureza humana humilhada e a ela misturados, nunca a alma perderá o mau odor do pecado, nem levedará, perdendo o peso e o defeito do «fermento da malícia» (1Cor 5,7). […] Se a alma se apoiar apenas nas suas próprias forças e se crer capaz de tudo conseguir sem a ajuda do Espírito, engana-se redondamente; ela não está feita para as moradas do céu, não está feita para o Reino. […] Se o pecador não se aproximar de Deus, se não renunciar ao mundo, se não esperar na esperança, e se a paciência for um bem estranho à sua natureza própria, que é a força do Espírito Santo, se o Senhor não instilar, do alto, a sua própria vida nessa alma, nunca tal homem provará a verdadeira vida. […] Pelo contrário, se tiver recebido a graça do Espírito, se dele não se afastar, se não O desgostar com a sua negligência e as suas más acções, se, perseverando longamente no combate, não ofender o Espírito (Ef 4,30), terá a felicidade de obter a vida eterna».

 

São Rafael Arnaiz Barón, monge trapista espanhol do século passado, fala-nos da sua experiência: «A virtude, Deus, a vida interior: que difícil me parecia viver tudo isto! Agora, não é que tenha a virtude, ou que o meu conhecimento de Deus e da vida espiritual esteja completamente claro, mas vi que alcançamos tudo isso justamente ao contrário, pela simplicidade de coração e pela pureza de espírito. […] Sim, é verdade: para alcançar a virtude não é necessário fazer um plano de caminho, nem dedicarmo-nos a grandes estudos; basta o simples acto de querer; muitas vezes, basta a simples vontade. Então, porque não alcançamos a virtude mais vezes? Porque não somos simples; porque complicamos os nossos desejos; porque, devido à nossa falta de vontade, tudo o que queremos se torna difícil. Ela deixa-se levar pelo que lhe agrada, pelo que é cómodo, pelo que não é necessário, e muitas vezes por desejos desordenados. […] Se quiséssemos, seriamos santos, e é muito mais difícil ser engenheiro do que ser santo».

 

Que nos vossos corações, nas vossas famílias e nas vossas comunidades a oração comece a reinar… Ressoa ainda em mim a catequese sobre a oração que, hoje, Memória de São João Maria Vianney, meditei pela manhã: «O vosso coração é pequeno, mas a oração dilata-o e torna-o capaz de amar a Deus. A Oração faz-nos saborear antecipadamente a suavidade do Céu, é como se alguma coisa do Paraíso descesse até nós. Ela nunca nos deixa sem doçura: é como o mel que se derrama sobre a alma e faz com que tudo nos seja doce. Na oração bem feita desaparecem as dores, como a neve aos raios do sol. […] Há pessoas que se submergem na oração, como os peies na água, porque estão completamente entregues a Deus. O seu coração não está dividido. Oh, como eu amo estas almas generosas!». 

 

Eu estou convosco, e com os Santos e os Anjos intercedo por todos.

 

Nossa Senhora intercede por nós, associando a Si os santos e os anjos. A uns dias de celebrarmos a solenidade da Assunção de Nossa Senhora, seguida, no último dia do oitavário, da Memória de Nossa Senhora Rainha, é fácil soltar a nossa imaginação… Nos três dias que o seu corpo imaculado esteve no sepulcro, a guarda de honra pertenceu aos anjos, enviados do Céu para custodiarem Aquela que iria ser dentro em pouco coroada como rainha de todos eles. São muitos, descem em legiões cerradas, entoando hinos de glória. O gozo que experimentam não se consegue descrever. Todos brilham com uma nova luz, mas quando Maria, pela mão do Filho, sai do sepulcro e lentamente vai deixando a terra, o brilho da Sua luz, o seu esplendor, comparado como dos anjos, é como o fulgor da lua entre as estrelas. Chegada às portas do céu, muitos outros anjos esperavam e se integraram naquela magnífica procissão que da terra subiu ao Céu.

 

Não se trata apenas de uma descrição empolgada… Na realidade os anjos estão de muitas formas ao nosso serviço, também como nossos intercessores. O Beato John Henry Newman, recorda-nos que «os anjos se ocupam activamente dos membros da Igreja. […] Por muito que sejam grandes, gloriosos e puros, […], os anjos “são servos como nós” (Ap 19,10) e nossos companheiros de trabalho. Velam por nós e defendem até o mais humilde de entre nós, se estivermos em Cristo. Eles fazem parte do nosso mundo invisível, como é manifesto pela visão que teve o Patriarca Jacob (cf Gn 28,10ss). […] Jacob só via o mundo visível, não via o mundo invisível, mas o mundo invisível estava lá.[…] Tratava-se do outro mundo; as pessoas falam dele como se não existisse agora mas somente depois da morte. Não, ele existe agora, ainda que nós não o vejamos; está entre nós, ao nosso redor. Foi isto que foi revelado a Jacob: os anjos estavam à sua volta, ainda que ele não o soubesse. E o que Jacob viu no seu sonho, outros também o viram […] e ouviram, como os pastores no Natal.»

 

São Boaventura ensina que uma das honras com que Jesus Cristo distinguiu sua Santíssima Mãe, nos Céus, foi a de Lhe reservar o lugar imediato junto ao Rei. E isto por três razões: A primeira, pela união amorosa de corações. Assim como nada se interpôs entre o coração de Deus e o da Virgem, tampouco se interpõe algo entre seus tronos. Depois, pela constante intercessão pelos pecadores. Tendo Ela o ofício de medianeira e reconciliadora, deve sentar-se, não longe, mas perto e quase ao lado, como para falar ao ouvido do Rei, a fim de que Ele não pronuncie severa sentença contra os que a Ela recorrem, ou, caso a houvesse ditado, seja revogada. Finalmente, pelo patriarcado, o qual, embora tivesse pertencido a Adão entre os homens, e a Eva entre as mulheres, passou a ser exercido por Cristo e Maria, sua Mãe; pois assim como aqueles foram assassinos do género humano, estes foram seus salvadores. Ela, que reina com o Filho para sempre!

 

Depois de aprendermos com o teólogo, discípulo de São Francisco, soltemos de novo a imaginação… Coroada Rainha, vão homenageá-la os habitantes do Céu. O Pai exalta-A como a Sua Filha predilecta, e Maria adora-O; O Filho salta-Lhe para o colo e a Mãe corresponde com carinhos; o Espírito Santo cobre-A com a Sua sombra e Maria retorna-Lhe todo o amor do Seu coração. A seguir chegam as Virgens que A saúdam como a Rainha das Virgens; já se perfilam os Patriarcas, Abraão, Isaac e Jacob, que A saúdam como a obra prima do Povo que a partir deles foi gerado; já se vêem os Profetas que A reconhecem como o objecto das suas esperanças e santas impaciências; também os Apóstolos que A precederam na morte, são acariciados por Aquela Mãe que os suportou em tantos desânimos; os Mártires saúdam-nA como Aquela que, aos pés da Cruz, se tornou modelo insigne no sofrimento e martírio; uma multidão de Confessores da Fé também marcou presença… deram testemunho da mesma fé que por Ela foi vivida sem qualquer hesitação, mesmo em circunstâncias particularmente difíceis.

 

De novo os anjos com todas as suas hierarquias, reverenciam a sua Rainha e Senhora… E, nesta homenagem, reconhecem-se a Sua prima Santa Isabel, os seus pais, São Joaquim e Santa Ana… e o seu próprio esposo, o castíssimo São José.

 

Depois das homenagens, Maria pega nas virgens, nos mártires, nos confessores da fé, nos profetas e, com os anjos, intercedem todos à uma, por nós, junto do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Á vossa protecção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus, livrai-nos de todos os perigos, Virgem gloriosa e bendita. Rogai por nós, Rainha do santíssimo Rosário, para que sejamos dignos de alcançar as promessas de Nosso Senhor Jesus Cristo! Amen.

 

Cónego Armando Duarte

Lisboa, Memória de São Cura d’Ars, 4 de Agosto de 2014

 

 

 

 
 

 


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