Mensagem de 25 de abril de 2015



"Queridos filhos. Também hoje Eu estou convosco para vos conduzir à salvação. A vossa alma está inquieta porque o espírito está débil e cansado de todas as coisas do mundo. Filhinhos, rezem ao Espírito Santo para que Ele vos transforme e vos encha com a sua força de Fé e de Esperança para que possam ser firmes nesta luta contra o mal. Eu estou convosco e intercedo por vós diante do meu Filho Jesus. Obrigada por terem respondido ao meu chamamento."


Comentário da Mensagem

Também hoje Eu estou convosco para vos conduzir à salvação

 

Jesus é o único Salvador, é óbvio. Deliciemo-nos com esta reflexão de Santo Agostinho (354-430): «Jesus Cristo é a fonte da vida. Antes da fonte da vida ter vindo até nós, só tínhamos uma salvação humana, uma salvação semelhante à dos animais de que fala o salmo: «Tu, Senhor, salvas os homens e os animais» (Sl 35, 7). Mas agora a fonte da vida veio até nós, a fonte da vida morreu por nós. Como poderá recusar-nos a Sua vida Aquele que Se ofereceu à morte por nós? Ele é a salvação, e esta salvação não é ineficaz como a outra. Porquê? Porque não desaparece. O Salvador veio. Ele morreu, mas matou a morte; em Si, pôs fim à morte; assumiu-a e matou-a».  

 

Porém, não porque tivesse de ser assim, mas porque Deus quer que assim seja, é Maria quem nos conduz à salvação. Deus sujeitou a incarnação do Filho ao fiat de Maria, quis precisar da Sua palavra e permissão. Era isso necessário? Não era, mas Deus assim determinou. Pela mesma razão recebemos as graças do ministério público de Nosso Senhor, consubstanciadas no milagre de Caná, através da intercessão da Mãe de Jesus. Mais… segundo as revelações feitas à Beata Ana Catarina Emmerich, Cristo, antes dos trabalhos da nossa redenção, visitou a Santíssima Virgem e pediu-lhe permissão para a eles Se submeter.

 

No céu, esta relação entre Deus e Aquela que Ele escolheu para Mãe do Seu próprio Filho, continua. Como aqui na terra, Maria, por humildade e obediência, aceita este papel de medianeira: a Sua intercessão é agora necessária - porque Deus assim o determina – para a nossa salvação. Não me refiro a uma salvação genérica, mas à salvação de cada um daqueles que, na pessoa dos Apóstolo João, no testamento da Cruz, Lhe foram confiados. Cada um dos Seus filhos precisa da mediação da Mãe para se salvar. É isto, sem dúvida, que Nossa Senhora nos quer dizer na mensagem de Abril. Ela desce do céu à terra, torna-Se presente, para nos conduzir à salvação. Penso que, ao longo de toda a história da Igreja, não haverá um único santo, ou um mestre de vida espiritual (pelos teólogos já não ponho as mãos no fogo…), que conteste a necessidade da mediação de Maria.

 

Para que não fiquem dúvidas sobre o que afirmo, entrego esta parte da meditação a Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja (1696-1787). «Tão grande é o prestígio de uma mãe, que nunca se pode tornar súbdita de seu filho, ainda que este seja monarca e tenha domínio sobre todas as pessoas do seu reino». É verdade, sentado agora à direita de Deus Pai, no céu, reina Jesus e tem supremo domínio sobre todas as criaturas e também sobre Maria. E o tem mesmo como Homem, ensina São Tomás de Aquino, em virtude da união hipostática com a pessoa do Verbo. Todavia, é também certo que o nosso Redentor, quando vivia na terra, quis humilhar-Se a ponto de ser submisso a Maria – “[…] e era-lhes submisso” (Lc 2, 51). Sim, desde que Jesus Cristo Se dignou escolher Maria por Mãe, estava como Filho realmente obrigado a obedecer-Lhe, diz Santo Ambrósio. Os outros santos – diz Ricardo de São Lourenço – estavam unidos à vontade de Deus; mas teve Maria maior ventura, pois não só foi submissa à vontade de Deus, mas também o Senhor Se submeteu à Sua vontade. Das outras virgens diz-se que “seguem o Cordeiro por toda a parte”. Porém, de Maria, pode dizer-Se que o Cordeirinho de Deus A seguia, porque Lhe foi submisso.

 

Podemos concluir que são as súplicas de Maria eficacíssimas para obterem tudo o que Ela pede, […] pois os Seus rogos sempre são rogos de Mãe. […] Daí as palavras de São Pedro Damião: “A Virgem consegue quanto quer, no Céu como na Terra; até aos desesperados pode restituir a esperança de salvação. […] A Ele, Jesus, Se dirige Maria quando quer obter-nos alguma graça. O Filho tanto aprecia, porém, os rogos de Sua Mãe e tanto deseja ser-Lhe agradável, que a Sua intercessão mais se afigura a uma ordem do que a uma prece, e Ela parece antes uma Rainha do que uma serva”, remata o santo.

 

[…] Ouviu Santa Brígida, Jesus dizer a Maria: Minha Mãe, Tu sabes quanto Te quero; pede-Me por isso o que quiseres, porque, seja qual for o pedido, não pode deixar de ser por Mim ouvido. […] Com toda a razão, portanto, ó excelsa Advogada nossa, Vos diz São Bernardo: Tudo se faz se Vós o quereis. Basta a vossa vontade para que tudo se faça. Quereis elevar a uma alta santidade o mais abjecto dos pecadores? Em vossa vontade está fazê-lo. De Eádmero são estas palavras: “Senhora, basta-Vos querer a nossa Salvação e nós não podemos perecer”» (in Glórias de Maria, cap. VI, n.1).

 

Em consonância está o ensinamento de um famoso teólogo Jesuíta, Francisco Suárez, que nasceu em Granada, em 1548, e faleceu em Lisboa, em 1617, pouco tempo depois de ter concluído a sua obra mais conhecida, “Em Defesa da Fé”. Para Suárez, a intercessão e as orações de Maria estão acima de todas as outras e são não só úteis como também necessárias. Maria colaborou na nossa salvação de três maneiras: Primeira, por ter merecido, porque assim Deus considerou adequado, a incarnação do Verbo. Segunda, por ter rezado continuamente por nós enquanto viveu neste mundo. E terceira, por ter oferecido voluntariamente a vida do Seu Filho a Deus para a nossa salvação. Por esta razão, Nosso Senhor decretou na Sua justiça que, assim como Maria colaborou na salvação dos homens com tanto amor, dando ao mesmo tempo tanta glória a Deus, assim todos os homens devem alcançar a salvação por intercessão de Maria.

 

Deixem que vos cite ainda Santo António de Lisboa (1195-1231): «Quem pede e espera obter graças sem a intercessão de Maria é como se tentasse voar sem asas. Porque, assim como o Faraó disse a José: “A terra do Egipto está nas tuas mãos” e, em seguida, lhe enviou todos os que vinham pedir ajuda, dizendo: “Ide a José”, assim Deus nos envia a Maria quando procuramos graças».

 

À maneira de síntese, fiquemo-nos com este ensinamento de São Germano (496-576), eremita, abade, bispo e padroeiro de Paris: «Não há ninguém, ó Maria Santíssima, que possa ser salvo ou remido, a não ser por Vós, ó Mãe de Deus. Ninguém que possa ser livre dos perigos a não ser por Vós, ó Virgem Mãe. Ninguém que possa alcançar misericórdia a não ser por Vós, ó Cheia de Graça».

 

A vossa alma está inquieta porque o espírito está débil e cansado de todas as coisas do mundo.

 

Junto com "misericórdia", nos lábios do Papa Francisco há sempre uma outra palavra: "mundanismo". O Papa, a tempo e fora de tempo, não se cansa de denunciar o perigo de viver conforme "os valores do mundo", com um estilo de vida "que é tão agradável ao diabo". "O mundanismo é o inimigo"! «O mundanismo oferece-nos o caminho da vaidade, do orgulho, do sucesso... É o outro caminho. O maligno o propôs também a Jesus, durante os quarenta dias no deserto. Mas Ele rejeitou-o sem hesitação. E, com Cristo, também nós podemos vencer esta tentação, não só nas grandes ocasiões mas também nas circunstâncias ordinárias da vida», dizia ainda recentemente o Santo Padre na homilia de Domingo de Ramos. E numa outra ocasião, durante a sua visita a Assis: «O próprio Jesus nos dizia: “Não se pode servir a dois senhores, ou se serve a Deus ou ao dinheiro”. No dinheiro está todo este espírito mundano, vaidade, orgulho, este caminho… não podemos… é triste apagar com uma mão aquilo que escrevemos com a outra. O Evangelho é o Evangelho. Deus é um só! E Jesus tornou-Se um servo para nós, por isso, na vida do cristão, não há lugar para o espírito do mundo».

 

São João é bem claro: «Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida - não vem do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre» (1 Jo 2, 15-17). Mas, a verdade, é que todos nós fazemos a experiência de São Paulo: «Porque o que faço não o compreendo; pois não faço aquilo que quero, mas sim aquilo que aborreço. Ora, se eu faço o que não quero, reconheço que a lei é boa. […] Efectivamente, o bem que eu quero, não o faço, mas o mal que não quero, é que pratico. Se, pois, faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Deparo então com esta lei: querendo fazer o bem, é o mal que eu encontro. Sinto prazer na lei de Deus, de acordo com o homem interior; mas vejo nos meus membros outra lei, a lutar contra a lei da minha razão, e a reter-me cativo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor! Sou eu mesmo que, pela razão, me submeto à lei de Deus e, pela carne, à lei do pecado» (Rm 7,15-16; 19-25).

 

Esta é a nossa luta! Que nos cansa, nos debilita, nos torna inquietos e nervosos… O facto de ser uma luta comum a todos – até a São Paulo – não nos vamos conformar, cruzando os braços… É preciso que, com determinação e socorrendo-nos dos meios adequados, enfrentemos aquilo que nos cansa e desfigura.

 

Conheceis, por certo, a história daquele velho chefe índio que se converteu a Cristo. Dois dos "caras pálidas" que o evangelizaram foram visitá-lo e perguntaram-lhe como estava indo a sua vida espiritual. O velho chefe respondeu que era como se tivesse dois cachorros vivendo dentro dele, um branco e um preto, que brigavam todo o tempo! “E qual dos cachorros é mais forte?”, perguntou um dos visitantes… “Tem dias… olha, é aquele que eu alimento mais!”, respondeu sabiamente o grande Chefe. O mesmo se passa na nossa luta: se festejamos “com as bolotas que os porcos comem”, cresce o homem carnal, submetido à lei do pecado; se nos alimentamos dos bens do alto, cresce em nós o homem espiritual, submetido à lei de Deus.

 

O Papa Francisco, na homilia da celebração penitencial a que presidiu na Basílica de São Pedro a 28 de Março de 2013, apontou o alimento adequado: «Revestir-nos do homem novo. O homem novo, “criado segundo Deus” (Ef 4,24), nasce no baptismo, momento em que se recebe a própria vida de Deus, que nos torna Seus filhos e nos enxerta em Cristo e na Sua Igreja. Essa vida nova permite olhar a realidade com outros olhos, sem nos distrair com as coisas que não são importantes e não duram. […] Do coração do homem, renovado por Deus, provêm os bons comportamentos: falar sempre com verdade e evitar sempre qualquer mentira; não roubar, mas partilhar com os outros aquilo que se possui, principalmente com quem passa necessidade; não ceder à ira, ao rancor e à vingança, mas ser manso, magnânimo e pronto ao perdão, não ceder à maledicência que corrói a boa fama das pessoas, mas olhar sempre o lado positivo de todos». O Santo Padre apontou de seguida outro alimento indispensável e sempre ao nosso alcance porque «o Pai não se cansa de nos amar»: «Permanecer no amor. O amor de Jesus Cristo dura para sempre, não terá jamais fim, porque é a própria vida de Deus. Esse amor vence o pecado e nos dá forças para nos levantarmos e recomeçarmos, porque com o perdão o coração se renova e se revigora».

 

 O Jesuíta Jean-Pierre de Caussade (1675-1751), dizia: «Se rasgássemos o véu e se estivéssemos vigilantes e atentos, Deus revelar-Se-nos-ia sem cessar e usufruiríamos da Sua acção em tudo o que nos acontece. Em cada coisa diríamos: «É o Senhor!» E saberíamos em todas as circunstâncias que recebemos uma dádiva de Deus, que as criaturas são instrumentos muito fracos, que nada nos faltará e que o cuidado permanente de Deus O leva a conceder-nos o que nos convém».

 

Filhinhos, rezem ao Espírito Santo […] para que possam ser firmes nesta luta contra o mal.

 

Fixemo-nos em dois excertos de um sermão de Santo António de Santo de Lisboa (1195-1231), em Dia de Pentecostes: «O Espírito Santo é o sustento que nos reconforta no caminho para a pátria, é o vinho que nos alegra na tribulação, é o óleo que adoça as amarguras da vida. Faltava este triplo socorro aos apóstolos, que tinham a missão de ir pregar no mundo inteiro. Foi por isso que Jesus lhes enviou o Espírito Santo. E ficaram cheios dele – cheios, para que os espíritos impuros não pudessem ter qualquer poder sobre eles: quando um copo está bem cheio, não se pode pôr mais nada dentro dele». Com a sua habitual profundidade teológica, continuou a sua pregação: «O que o fogo faz com o ferro, faz o fogo do Espírito no coração malvado, frio e endurecido. Pela infusão desse fogo, a alma aparta de si toda a imundície, insensibilidade e dureza, e se transforma à semelhança d'Aquele que a inflamou. Para isso é dado ao homem, para isso lhe é infundido: que, quanto lhe seja possível, a ele se configure. Graças ao abrasamento do fogo divino, o homem torna-se totalmente incandescente, arde por inteiro e se dissolve no amor de Deus, como diz o Apóstolo: "O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5, 5)».

 

O Papa Francisco baptizou 33 crianças na Festa do Baptismo do Senhor, neste ano no dia 11 de Janeiro, tendo  deixado alguns conselhos a pais e padrinhos.  Francisco precisou que aquilo que o leite faz ao corpo, «a Palavra de Deus faz pelo espírito: a Palavra de Deus faz crescer a fé e pela fé somos gerados por Deus, que é o que acontece no Baptismo».  A homilia do Papa exortou os pais a darem exemplo com a vivência diária da fé: «Todos os dias, ganhem o hábito de ler um pequeno trecho do Evangelho, pequeninho e levai sempre convosco uma pequena Bíblia no bolso, na mala, para poder lê-la. E isto será o exemplo para os filhos, ver o pai, a mãe, os padrinhos, avós, tios, lerem a Palavra de Deus», e prosseguiu: «Queridos pais, queridos padrinhos e madrinhas, se quiserem que as crianças se tornem verdadeiros cristãos, ajudem-nas a crescer mergulhadas no Espírito Santo, ou seja, no calor do amor de Deus, na luz da sua Palavra». Sublinhou ainda a necessidade de rezar ao Espírito Santo: «é necessário invocar com frequência o Espírito Santo, na vida em família».

 

Como não recordar, no contexto desta meditação sobre a mensagem em que a Rainha da Paz nos pede que rezemos ao Espírito Santo, a Catequese do Papa, na Praça de São Pedro, há precisamente dois anos: «Perguntemo-nos: “Estou aberto à ação do Espírito Santo? Peço para que Ele me traga luz, me torne mais sensível às coisas de Deus? Esta é uma oração que devemos fazer todos os dias:“Espírito Santo, abre o meu coração à Palavra de Deus; que o meu coração esteja sempre aberto ao bem e à beleza de Deus”.Gostaria de fazer a todos uma pergunta: “Quantos de vocês rezam todos os dias ao Espírito Santo?” Serão poucos, talvez, mas devemos cumprir esse desejo de Jesus e orar, todos os dias, ao Espírito de Deus. Invoquemos, mais vezes, o Espírito Santo para que nos guie no caminho dos discípulos de Cristo. Invoquemos todos os dias. Faço-vos esta proposta: invoquemos todos os dias o Espírito Santo, assim Ele vai aproximar-nos, cada vez mais, de Jesus Cristo.

 

Guiados por Nossa Senhora, rezemos:

 

Veni Sancte Spiritus! Vem Espírito Santo, para que resistamos ao poder do mundo. Vê como somos fracos, como somos tímidos, e como as razões do mundo avançam na conquista dos corações dos jovens e dos menos jovens. Que poderemos fazer, se não vieres em nosso auxílio? Os nossos argumentos passam ao lado de muitos dos nossos contemporâneos, sem lhes beliscar a couraça das seguranças em que põem a sua confiança. Sem o teu Espírito, tornamo-nos como o sal que não salga, ou como a luz que não alumia. Sem o teu Espírito, corremos o risco de nos sentir defensores de uma causa perdida. Enche-nos do teu Paráclito, do teu Advogado, do teu Arguente, do teu Defensor, do teu Consolador, para que não fujamos à luta, não fiquemos desarmados, não nos afoguemos no difuso paganismo que nos envolve. Faz-nos profetas críticos deste mundo, profetas entusiastas do teu mundo, da tua verdade. Amen.

 

Cónego Armando Duarte

Lisboa, 13 de Maio de 2015


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